Não podia começar a escrever neste blog sobre "máquinas voadoras" sem exprimir o que realmente se sente quando se voa.
Esta sensação faz-me voltar atrás no tempo e deliciar-me com as minhas memorias.
Estava no ano de graça de mil nove 93, um verão escaldante e o meu sonho estava prestes a ser realizado. Nas longínquas terras do Alentejo (sim, é que ainda não havia a A2 e a viagem Porto - Beja demorava à vontade 6 horas de carro), o meu corpo franzino de apenas de 17 anos carregava o meu pesado e enorme ego por ter conseguido chegar até esta etapa. Não me importava muito se esta barreira não fosse ultrapassada, no entanto o medo era - não conseguir ser mais ou menos bom para fazer aquilo que desejei toda a minha vida!
Um calor tórrido superior a 40 graus na placa, aquele odor do combustível combinado com o belo cheiro da ceara Alentejana não me sai do nariz. As memorias levam-me até aos mais pequenos pormenores da sala de aulas ao lado do bar dos pilotos. O símbolo de tons vermelho sangue e o preto que conjugava o cartoon dos Lobos ao lado do pequeno quadro de lousa. Esta era a sala que nas semanas anteriores tinha bebido todos os ensinamentos sobre aerodinâmica, performance, segurança, instrumentos de voo, etc.… Estas pequenas coisas faziam-me sentir um verdadeiro homem com asas.
O dia que ansiava tinha chegado, o primeiro voo era logo a seguir ao almoço, parecia um puto que na noite de natal esperava que me dessem autorização para abrir as prendas.
O ritual de, de fato de voo vestido, colocar o capacete e o pára-quedas (sabe-se lá para quê, pelo menos era isso que ia no meu cérebro), era sem dúvida a altura de relaxar e começar a transformar o meu corpo.
Pouco tempo depois, o instrutor dava a autorização para que o meu corpo se fundisse com a bela máquina voadora, o verdadeiro TB-30 (Épsilon). O meu corpo estava preso pelos cintos à máquina de 300 cv, as minhas asas já estavam. O jack ligado… só faltava prender o pára-quedas à canopy.
Neste preciso momento e durante alguns segundos que, tudo o que tinha preparado minuciosamente durante semanas, se desvaneceu do meu cérebro, como que um reset do computador se tratasse. Logo de seguida o nosso anjo da guarda deu autorização para descolarmos.
Este foi o dia em que realmente poderia experimentar o que durante tantos anos eu poderia chamar de um "sonho".
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